6 de janeiro de 2015

O Quarto

O senhor com sua barba desgrenhada resmungava, debaixo da coberta [concha]:

"Oras, que colcha mais quente! Que calor do inferno!"

"O senhor poderia comprar um ventilador...”. 
Disse a enfermeira, enquanto dobrava alguns lençóis e os colocava no armário. Seu rosto era irônico e belo e, era a grande e única visita daquele senhor fazia dois anos:
 “Ventilador? Não vê que estou impossibilitado de sair daqui! E ainda terei de caminhar até a venda!"

Disse entre várias tossidas...

A enfermeira sorriu em meio às dobras dos lençóis, revirando os olhos. O senhor não fazia a barba fazia um mês alegando impossibilidade de fazer grandes esforços:


"Está bem, vou deixá-lo por alguns minutos, tudo bem?"


Deitado ali estava relaxado, estava relativamente confortável. Podia quase tudo.

Olhou para o lado, a janela brilhando sob a luz do sol, sim, o sol sorria. Olhou pro outro, um quadro colorido, um campo que se perdia no horizonte, lindo!

Olhou sua colcha, cor azul fraquinho, sem graça, triste de agonia. Ele então se levantou, procurou nas gavetas um maço e caminhou até a janela enquanto tentava, sem sucesso, acender o cigarro:


 “Maldito isqueiro!"

Por Aslien.

Nenhum comentário:

Postar um comentário