9 de setembro de 2016

O inconsciente

Eu tive um sonho em que saíamos do carro rumo a um lugar desconhecido, você com a cabeça no meu ombro e eu com os braços nos seus. E era tão natural, como se fôssemos um casal e o lugar fosse amor.

4 de setembro de 2016

Presente

(Existem as coisas dos homi
As coisas dos bicho
E as coisas do amor alguém sabe me explicar?)

Foi na hora de se despedir, ele a acompanhava até o carro depois de uma tarde agradável, de repente ficou um silêncio que ele considerou como um ato pacífico. Para descontrair ele brincou com algo que havia dito antes e ela riu. Já estavam na frente do carro ainda sorrindo um para o outro e, como quem não sabe o que faz, as mãos dela procuravam na bolsa a chave. A mente dela devia estar a mil porque a chave estava ao lado da sua carteira à direita.... Na mesma hora ele foi tentar ajudá-la e as mãos se tocaram e automaticamente se distanciaram. Ele olhou pra ela e ela olhou de volta com um sorriso aberto. Tirou da bolsa não as chaves, mas um pequenino presente. Os olhos deles se arregalaram, o coração acelerou, os tímpanos escutavam somente as batidas ritmadas que vinham de dentro... Mais uma vez a mão se aventurou ao contato com a dela para alcançar o pequenino presente e por algum motivo uma força surreal os envolveu naquele momento e, tudo o fazia querer tê-la por perto. Seus olhos brilhavam, seus cabelos dignos de qualquer propaganda de beleza, até o jeito que a luz do sol a envolvia... Mas a melhor parte foi que ele percebeu que ela sentia o mesmo. Estavam conectados. E como se não suportasse andar contra a maré ele lhe beijou os lábios, vermelhos, macios e só quando largou é que se deu conta do que tinha feito, mas ela sorria o melhor sorriso da vida! Movida pela inércia ela entrou no carro e se foi. O menino permaneceu na calçada observando seu próprio íntimo lhe contar como se fosse um segredo: ela estava espantadíssima com a rapidez com que a paixão tinha lhe arrancado do chão.

5 de julho de 2016

Sobre con(tempo)raneidade

Bonito foi ver pela manhã uma flor crescer em meio as pedras. As inconstâncias da vida é que nos guia entre o germinar e o declinar das flores.
E, triste foi ver a noite amontoada de pedras.

17 de maio de 2016

A janela, a chuva e o calor...

O barulho de chuva do lado de fora do quarto a fazia querer deixar a janela aberta... Conseguia finalmente ver quão linda era a alma dela, ao respirar conseguia sentir o cheiro característico de seu perfume. Seu maior defeito também era sua mais bela virtude, como poderia imaginar uma coisa dessas? Todas as vezes que ela só queria me fazer sorrir, ou se desmanchava em sinceridades e inseguranças buscando algo de mim, e eu somente conseguia ignorar as batidas no vidro. Era a janela entre nós que eu não quis abrir.
Aí me vem a questão:  Ela era linda somente atrás do vidro? Nem imaginava que ela poderia ser um ser humano. Pois agora eu vejo, ela era um ser humano que não valia a pena ser só vista, mas sentida. Sua cabeça enuviada e seu coração simples e meigo... Como poderia ela quebrar o vidro? Aliás, ela tentou abrir a janela, dizia coisas do tipo “Você precisa sentir isso”!”; “ Veja, sinta o calor da minha mão”; “ Consegue me escutar daí?”; “Ei, eu estou aqui...” Disse isso com aqueles olhos pequenos  e a ponta do nariz encostada na janela. Teve uma vez que ela me assustou cuspindo um jato de água no meu rosto, eu desviei como quem foge de um tsunami, e ela riu o resto do dia.
Lembro que eu também a surpreendi algumas vezes, uma vez em particular, quando estávamos em uma tarde qualquer conversando enquanto dividíamos um 'sunday' e, por alguns minutos fui capaz de segurar suas mãos e dizer “Eu te amo”. Não me esqueço do semblante dela de espanto: sobrancelhas arqueadas e um leve rubor nas bochechas e a boca em confusão buscando palavras pra o que ela não esperava ouvir. Ainda não sei se fico feliz ou triste lembrando-se disso.
(Teve outra vez, uma noite, em que eu abri a janela e pedi que ela ficasse mais próxima de mim e assim adormecemos juntas, ou o mais próximo que conseguimos disso com uma janela no meio).
A chuva parou, mas o céu continua nublado, o que me faz sentir mais falta do calor do seu abraço.
Ela tinha seu ritmo, ela era forte a sua maneira, mas eu não percebi isso, achava que era teimosia ou fraqueza. Eu achava que tinha que lhe dar direções: “Para, não vá tão rápido!” ou “Vai mais pra lá“ ou  “ Eu estou na sua frente, não vê?”. Em outras ocasiões cheguei a colocar cortinas, assim somente a ouvia gritar lá fora ou o puro silêncio.
  Claro que ela não era só um doce, por vezes demonstrava um estado apático e outros de pura indignação, nesses momentos eu até me surpreendia com sua forma de falar, tão eloquente e agressiva. (Pergunto-me se ela não teria dom para a política...). O engraçado era que não importava o quão feia eram nossas discussões, ela sempre tinha um sorriso pra me dar no fim.
Tiveram raras outras vezes que eu abria uma frestinha e conseguia sentir um pouco a textura do seu rosto, passava as mãos nos seus cabelos e conseguia sentir o olhar dela no meu... O motivo pra fechar de volta a janela nem eu sei dizer. Talvez achasse que ela sempre estaria ali todas as manhãs pra me desejar “Bom dia”, ou então era puro medo de deixar ela se aproximar de mim.
 Como pude deixar a janela fechada todo o tempo em que ela estava ali? Era praticamente como se não a tivesse, de fato, conhecido. Não teria sido mais simples abrir? Agora era tarde pra sentir a chuva no rosto...