2 de maio de 2013

Parte II




Deitado na cama ele via todos os momentos bons com grande pesar, seu caminho durante dois anos completos finalmente o levaram para lugar nenhum.  As pessoas são completamente loucas! Parecem agir sempre de um jeito e pensar de outro, qual é o problema delas? Que complicação. Por que simplesmente o carro não passou por cima dele? Mordeu na barra de chocolate. O quarto parecia estar ouvindo-o com atenção, pois permaneceu em silêncio.

Dias que passavam como noites e noites que passava como os dias, acordado, com a diferença de que não estava num clube, ou no trabalho, mas sim na cama o que era extremamente fatigante.
Será possível se atormentar tanto assim?
De repente ele só queria morar num mundo FICTÍCIO, onde pudesse ter pessoas sinceras, que apenas dissessem "adeus, gosto de outro (a)" ou "desculpe, não sinto o mesmo, melhor me esquecer!"sem fazer com que ele acreditasse do contrário. Um mundo que ele não precisasse usar ataduras por ter entregado a alma para alguém que a devolveu em pedaços; ataduras aos quais ele procurou desesperadamente no banheiro, depois no quarto sem sucesso.

Sim, ele era um romântico desvairado.

Por Aslien.

Parte I

Em uma sala de espera, ele observava a avó e neta fazendo o dever de casa, digo, a avó ajudava:
-- Descubra o intruso...  – leu a neta.
-- Isso! Você sabe o que um intruso?
-- Gente chata!
-- Não... Intruso é aquele que não devia estar em determinado lugar...
Ele se pegou rindo, um sorriso de canto de boca. Engraçado... “Gente chata” poderia muito bem ser um intruso... O sorriso se foi. E um intruso poderia ser muito bem ele mesmo na vida de outra pessoa. Na verdade de uma pessoa em específico.  O peso foi tomando seu corpo, os olhos contraíram e a garganta doeu. Não era o momento, pensou. E estava certo, pois foi chamado no mesmo instante.
O peso do corpo na caminhada de volta pra casa era tudo o que ele conseguia sentir, além do sol quente no rosto que deixava seu rosto mais franzido e propício para um derramar de lágrimas que seria lastimável.  Pensou na roupa que iria usar no dia seguinte, pensou em como tinha sido seu dia anterior e seu fim de semana, pensou em tudo que era preferível pensar já que a mente não descansa e, na verdade às vezes ela nos cansa, mas isso era melhor não pensar senão ia ficar mais cansado do que já estava. E antes que pudesse se dar conta de que o sinal à frente estava fechado fazia 20 segundos, saiu em disparado percebendo no mesmo instante que calculara mal, e já estava no meio da pista e seria loucura parar no meio da pista! Continuou correndo. Nisso buzinadas e xingamentos foram a música de fundo, de um perfeito atropelamento, se não fosse o motorista um senhor já de 50 anos e sem coordenação motora pra xingar, buzinar e acelerar ao mesmo tempo.
Ele se viu do outro lado, já na calçada indiferente ao que tinha acabado de acontecer... Havia escapado e, por um triz... Seus olhos se encheram de lágrimas. O que? Lágrimas? Pareceram completamente inadequadas num momento como aquele, um sorriso de alívio seria o normal.
As lágrimas vieram com força, seu peito estava apertado, seu coração inchado, seu corpo pesado e sua alma vazia... Deus do céu! Ele queria ter sido atropelado! Se viu estirado no chão sentindo seu último sopro de vida chegar e era como o auge da felicidade. Esse desejo só lhe deixava mais aflito. Era produto de uma vida vazia, de esforços fracassados, apenas um intruso.

Por Aslien.