Em uma sala de espera, ele observava a avó e neta fazendo o dever de casa, digo, a avó ajudava:
-- Descubra o intruso... – leu a neta.
-- Isso! Você sabe o que um intruso?
-- Gente chata!
-- Não... Intruso é aquele que não devia estar em
determinado lugar...
Ele se pegou rindo, um sorriso de canto de boca. Engraçado...
“Gente chata” poderia muito bem ser um intruso... O sorriso se foi. E um
intruso poderia ser muito bem ele mesmo na vida de outra pessoa. Na verdade de
uma pessoa em específico. O peso foi
tomando seu corpo, os olhos contraíram e a garganta doeu. Não era o momento,
pensou. E estava certo, pois foi chamado no mesmo instante.
O peso do corpo na caminhada de volta pra casa era tudo o
que ele conseguia sentir, além do sol quente no rosto que deixava seu rosto
mais franzido e propício para um derramar de lágrimas que seria
lastimável. Pensou na roupa que iria
usar no dia seguinte, pensou em como tinha sido seu dia anterior e seu fim de
semana, pensou em tudo que era preferível pensar já que a mente não descansa e,
na verdade às vezes ela nos cansa, mas isso era melhor não pensar senão ia
ficar mais cansado do que já estava. E antes que pudesse se dar conta de que o
sinal à frente estava fechado fazia 20 segundos, saiu em disparado percebendo
no mesmo instante que calculara mal, e já estava no meio da pista e seria
loucura parar no meio da pista! Continuou correndo. Nisso buzinadas e xingamentos
foram a música de fundo, de um perfeito atropelamento, se não fosse o motorista
um senhor já de 50 anos e sem coordenação motora pra xingar, buzinar e acelerar
ao mesmo tempo.
Ele se viu do outro lado, já na calçada indiferente ao
que tinha acabado de acontecer... Havia escapado e, por um triz... Seus olhos
se encheram de lágrimas. O que? Lágrimas? Pareceram completamente inadequadas
num momento como aquele, um sorriso de alívio seria o normal.
As lágrimas vieram com força, seu peito estava apertado,
seu coração inchado, seu corpo pesado e sua alma vazia... Deus do céu! Ele
queria ter sido atropelado! Se viu estirado no chão sentindo seu último sopro de vida chegar e era como o auge da felicidade. Esse desejo só lhe deixava mais aflito. Era
produto de uma vida vazia, de esforços fracassados, apenas um intruso.
Por Aslien.
Por Aslien.
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